sábado, 12 de fevereiro de 2011

"Além da vida", de Clint Eastwood ("Hereafter")

Verdade seja dita: os filmes de Clint Eastwood não são dos mais alegres. Mas com certeza eles possuem uma sensibilidade sem igual. Em seu último filme, “Além da vida”, Clint não trata de um tema fácil: a morte em suas diferentes experiências. Um menino que perde seu irmão, uma mulher que chega muito próximo de sua morte e um homem que se comunica com os mortos e acaba sendo atormentado por familiares desesperados buscando uma última mensagem de quem se foi.

São temas muito delicados e que se não forem tratados de forma adequada e sensível, podem acabar descambando para um filme de gosto duvidoso. Porém Clint reúne tudo isso em um filme comovente e ao mesmo tempo verdadeiro que trata da reconstrução da vida de quem se depara (ou vive) com a morte.

Ao mesmo tempo em que é tão doloroso atravessar essa jornada ao lado dos personagens, é reconfortante perceber que cedo ou tarde, tudo, de alguma forma, irá se encaixar novamente, mesmo que isso, à primeira vista, pareça tão improvável.

A câmera roda em uma velocidade mais lenta, combinando assim com o tempo que se arrasta por quem passa por este sofrimento tão grande. Ela consegue focar além do rosto dos personagens; ela foca a dor que eles sentem e que carregam dentro de si, dia após dia.

Essa dor parece que nunca mais terá fim. E realmente não terá. A mensagem do filme é que tudo isso é inesquecível, mas temos que voltar à nossa vida, apesar dos pesares. Pode parecer um clichê de auto ajuda, mas é a mais pura verdade: a vida continua. Ela tem que continuar, ainda que a dor tente sufocar em sua imensidão gelada.

O que o filme nos relembra a cada momento é que somos involuntariamente mortais (idéia um tanto óbvia, mas que nos esforçamos para esquecer), e a morte nos ronda o tempo todo. Cabe a nós saber viver de forma verdadeira. Mais do que aprender a conviver com a perda, nós temos que ter forças para deixar ir quem não está mais ao nosso lado. Da mesma forma que não podemos ficar acorrentados na dor a vida toda, também não devemos fazer o mesmo com a pessoa que amamos.

Além da vida é um filme doído, mas imensamente verdadeiro, que busca reafirmar o mistério que envolve a vida e a morte, e que nós, teimosos que somos, não nos cansamos de tentar desvendar.

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